sábado, maio 03, 2008

Insensatez

Senti saudades de Torga neste fim-de-semana. Voltei a folheá-lo em busca da sua magnífica perspicácia para as coisas humanas.

"Coimbra, 11 de Março de 1973 - Não tenho emenda. Teimo na insensatez de pôr a mesma intensidade em cada acto do dia a dia, até quando sei objectivamente que não vale a pena. E acabo por me gastar da maneira mais absurda, como uma vela que continuasse a arder diante da evidência da luz do sol. Dissipo o presente em vez de o capitalizar para o futuro. Sempre disponível e sem prioridades absolutas, quero equivaler-me em todas as circunstâncias, e o resultado é andar atrasado comigo por um perdulário escrúpulo de atenção."

Quantos de nós?

The Black Swan

Leio actualmente The Black Swan, The Impact of the Highly Improbable, de Nassim Nicholas Taleb, penso que continuarei a lê-lo, apesar das críticas pouco abonatórias do New York Times (justas de resto, pelo menos no que se refere à fraude Yevgenia Krasnova no capítulo 2).
Um argumento crucial no livro, que julgo particularmente meritório, é dar-nos a perceber que aquilo que desconhecemos acerca de um qualquer tema pode ser infinitamente mais relevante do que aquilo que conhecemos. Apesar disso, tendemos a tomar decisões com base no que conhecemos e não com base no que desconhecemos. Temos até uma tendência natural para sobrevalorizar o que conhecemos em desfavor do que desconhecemos. E, tipicamente, tendemos a explicar, por exemplo, acontecimentos históricos com base no que conhecemos e não com base no que desconhecemos.
O autor alerta para o grande impacto que têm factos que desconhecemos, e, fundamentalmente, para o grande impacto que têm factos altamente improváveis para a explicação de acontecimentos, quer pessoais, quer históricos.
O título do livro, Black Swan, é uma alegoria a estes factos altamente improváveis. No hemisfério norte, todas as pessoas estavam totalmente convencidas de que todos os cisnes eram brancos. A observação sucessiva de cisnes brancos garantia esta certeza. O avistamento, com a descoberta da Austrália, do primeiro cisne negro pôs a nu, quer a fragilidade dessa assumpção, quer a fragilidade do conhecimento baseado na observação empírica. Na verdade, para que um facto tido como absoluto pela observação empírica sucessiva seja colocado em causa, basta que exista uma única observação que o contradiga.