segunda-feira, outubro 29, 2007

I Sing of Change

Transcrevi este poema de um painel no metro de Londres enquanto viajava entre Paddington e Piccadilly.

"I sing
of the beauty of Athens
without its slaves

Of a world free
of kings and queens
and other remnants
of an arbitrary past

Of earth
with no sharp north
or deep south
without blind curtain s
or iron walls

Of the end
of warlords and armouries
and prisons of hate and fear

Of deserts treeing
and fruitingafter the quickening rains

Of the sun radiating ignorance
and stars informing
nights of unknowing

I sing of a world reshaped"

Niyi Osundare (1947)
African Poems on the Underground

Memórias de Adriano

Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, é uma longa carta ditada pelo Imperador Adriano ao jovem Marco Aurélio, que viria a suceder-lhe no trono, numa altura em que a sua morte se aproximava. É particularmente inspiradora a seguinte passagem:
"A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros."

O Escritor

Yashima Khadra é o pseudónimo sob o qual escreve Mohammed Moulessehoul. Moulessehoul nasceu em Orão em 1955 e foi, até há pouco tempo, militar de carreira do exército Argelino. A sua escrita percorre os conflitos recentes no Médio Oriente com uma lucidez e um equilibrio invulgares, é assim em O Atentado e em As Sirenes de Bagdad, ambos publicado em português pela Bizâncio. O seu pseudónimo feminino permitiu-lhe escapar à censura militar, em O Escritor, Moulessehoul revela a sua identidade, conta a sua história, descrevendo-a como a fatalidade de ser escritor:
"O sofrimento não me aterrava; despertava-me, fazia-me tomar consciência da minha singularidade; eu era aquele que sabia ver, que esta va atento à dor dos camaradas. E essa coisa, que se fortalecia em mim, habitava-me justamente para me assistir nessa vocação. Não foi senão ao ler O Pequeno Polegar que a descarga se abateu sobre mim, como uma revelação que bate à porta. Era aquele o dom divino: o verbo. Nascera para escrever! Ao abrir o belo livro, ao percorrer as suas páginas de esplêndidas ilustrações, plenas de fascínio, fiquei irremediávelmente apanhado: escrever livros.
Devorei outros contos com um apetite insaciável: Branca de Neve, O Capuchinho Vermelho, A Bela Adormecida, as Fábulas de La Fontaine. Era feérico. Mas o meu fascínio, o verdadeiro, não era nem pelas histórias nem pelas personagens ou pelo talento fantástico dos desenhadores. Só o descobri ao iniciar-me, eu próprio, na escrita: estava fascinado pelas palavras... aquela junção de caracteres mortos que, entre uma maiúscula e um ponto, ganhavam de repente vida, tornavam-se frases, conjuntos, aquiriam força e espírito. Soube de imediato aquilo que mais queria no mundo: uma pena ao serviço da literatura, essa sublime bondade humana que não tem igual senão na sua vulnerabilidade; essa bondade suprema que continua a ser, ainda hoje, a última fortificação da nossa salvação, o último bastião contra a animalidade, e que, se alguma vez viesse a ceder, sepultaria sob os seus escombros todos os sóis do mundo, e então, boa-noite..."