sexta-feira, agosto 13, 2010

O que diz Dinis Machado

Esbarrei hoje com uma entrevista da Ler ao escritor Dinis Machado. É antiga a entrevista, na medida em que 2 anos é muito tempo e na medida em que Dinis Machado faleceu. (http://revistaler.no.sapo.pt/pdfs/dinismachado.pdf)

Desde que li O que Diz Molero interessei-me, quer pelo livro, quer pelo escritor. Não tinha que ser necessáriamente assim. Muitas vezes leio livros e fico com pouca curiosidade sobre o escritor, não por gostar menos do livro, são simplesmente coisas que acontecem.

O que Diz Molero é um livro pouco convencional, mistura a vida típica lisboeta, presa num certo tempo, com uma visão orwelliana que nunca a chega a ser descodificada claramente. Da mesma forma, Dinis Machado é um escritor pouco convencional.
Em primeiro lugar, é designado como escritor de uma obra só, os restantes livros são romances policiais menores (apesar de não ter lido nenhum, nunca sofri esse apelo). Note-se que Machado não renega esse rótulo, diz que sempre quis escrever algo verdadeiramente seu, numa linguagem sua, fê-lo em O que Diz Molero. Não valia a pena escrever outro Molero, não lhe terão faltado convites...
Em segundo lugar, tem um discurso sempre que o ouvi falar (ou que li o que terá dito, como nesta entrevista) que é muito pouco egocêntrico para um escritor. E principalmente, pouco egocêntrico para um autor de um livro tão bem sucedido como O que Diz Molero.

Há duas passagens particularmente interessantes e reveladoras nesta entrevista. Diz Machado que escreve com o corpo, que toda a escrita lhe saia com custo, fumava mais, ficava doente. Numa outra passagem, já final, revela-se sortudo por ser dotado de preguiça, por ter a qualidade de estar bem sem fazer nada, a fumar, a beber café, a reler um livro antigo...