quarta-feira, agosto 03, 2011

Yunes

É improvável a falta de sono fazer-me pálido, a minha tez escura esforça-se por disfarçar qualquer perda de rubor. Assim como é improvável notarem-se-me as olheiras a coberto pelos aros dos óculos, cuja coloração opaca sombreia não apenas as sobrancelhas ou o contorno ocular, como também as maças do rosto dependendo da direcção e intensidade da luz.
Por outro lado, e em contrapartida, padeço de outras consequências físicas, se bem que menos transparentes, do excesso de cansaço. Além da prisão de raciocínio, e da afasia, há algo que se constrói na boca e que se estende ao nariz, e mesmo aos ouvidos. Trata-se de um paladar que invade os dentes e se enrola na língua e cujo antídoto são largas horas de sono.
Nunca tive antídoto para Émilie, por mais que rebuscasse, umas vezes nos armários da Farmácia de Rio Salado, e outras vezes nas noites de Orão. Há coisas, e pessoas, que rapidamente se condenam a ficar marcadas na nossa memória. Trata-se de uma circunstância que decorre pouco de nossa vontade, sucede, aliás, sem razoabilidade clara. É traiçoeira e nebulosa a cabeça das pessoas e querer percebê-la é, frequentemente, esforço empatado.
Jamais resolverei todas as deslealdades a que me convidas pois são daquelas que me tiram o sono. Estou, aliás, convencido de que perdi a esperança no exacto momento em que aprendi a invejar toda a felicidade dos outros. A inveja é o barómetro infalível da desesperança.
Hoje percebi que me agradam igualmente a tua maturidade e tua infantilidade, tendo em conta o momento em que intuis usá-las. Percebi agradar-me a tua responsabilidade e o teu desprendimento de forma também equivalente.
Percebi outras coisas, por exemplo, que mulheres como tu têm para si que um amor deve ser para toda a vida, donde me é inútil este agrado.