Há alguns meses encontrei-me com um amigo dono de uma empresa de calçado. Falámos acerca da sua recente visita à Índia. O objectivo dessa visita foi profissional pelo que falámos um pouco sobre as condições de trabalho industrial nesse país. Contou-me sobre as deficientes condições das infra-estruturas industriais, sobre os horários de trabalho intensos, sobre as remunerações miseráveis e sobre o trabalho infantil massificado. Nada do que que me contou foi uma absoluta novidade mas o seu relato foi particularmente marcante, provavelmente por ser composto por imagens contadas por uma pessoa que me é próxima e por se basear em memórias ainda frescas da sua viagem.
Esta nossa conversa foi concluída com uma reflexão que julgo importante, disse-me este meu amigo que, provavelmente, algumas pessoas ocidentais ao terem noção das condições em que algumas peças do seu vestuário são fabricadas teriam repulsa em vesti-las ou comprá-las.
Um artigo recente do Internacional Herald Tribune, publicado esta semana no Courrier Internacional, prova-nos que as próprias marcas ocidentais são sensíveis a esta reflexão. Este artigo descreve a rotina diária de um auditor de conformidade social na China que trabalha para grupos americanos e europeus interessados em ter uma imagem fiel das condições de produção dos seus produtos nestes países. As auditorias de conformidade social surgiram nos anos 90, no âmbito de movimentos de protesto ocorridos nos Estados Unidos. Empresas como a Nike e a Wall-Mart começaram a ser pressionadas por grupos representativos dos seus próprios clientes no sentido de melhorarem as condições de trabalho dos seus subcontratados asiáticos.
Após vários escândalos, torna-se claro que as empresas ocidentais não podem permitir-se a este tipo de publicidade. Começa a verificar-se um fenómeno que este artigo designa de paradoxal, as empresas capitalistas ocidentais empenham-se em melhorar as condições laborais na China.