sexta-feira, novembro 06, 2009

David Janiak

Poucos dias depois do 11 de Setembro de 2001, David Janiak, um artista performativo, iniciou uma série de exibições de rua por toda a cidade de Nova Iorque. Estas exibições consistiam numa réplica da imagem do homem em queda das torres gémeas. Tratavam-se de réplicas brutais e chocantes desse momento. David Janiak aparecia um pouco por todo lado deixando-se cair e ficando suspenso, em queda, para um público acidental e chocado.
David percorre todo o livro o Homem em Queda de Don DeLillo, é um termómetro da cidade:
"Pendurado da varanda de um prédio de apartamentos em Central Park West."
"Suspenso do telhado de um prédio de escritórios no bairro de Willimasburg, em Brooklyn."
"Pendurado da bambolina no Carnegie Hall durante um concerto, com a secção de cordas em fuga, dispersa."
"A baloiçar por cima do East River, suspenso da ponte de Queensboro."
"A baloiçar, suspenso da balaustrada de um prédio de apartamentos na Chinatown."
"Suspenso do parapeito de um jardim, no terraço de um edifício na Tribeca."
"A baloiçar de uma ponte pedonal, por cima de FDR drive."


É difícil perceber a arte de David, é díficil definir como arte o que fazia David. É díficil ler as descrições de DeLillo sem um sentimento de choque profundo e parece-me impossível imaginar a reacção dos nova iorquinos, poucos dias depois dos ataques, ao serem confontados com a imagem, epidemicamente reconhecível, do Homem em Queda por David Janiak.


"Um homem estava ali a baloiçar, acima da rua, de cabeça para baixo. Vestia fato e gravata, uma perna flectida, braços estendidos junto ao corpo. A correia de um arnês de segurança entrevia-se a custo, presa ao parapeito decorativo do viaduto, a emergir das calças na perna esticada.
Ela já ouvira falar daquele indivíduo, um artista performativo conhecido pelo Homem em Queda. Fizera várias aparições ao longo da última semana, sem aviso prévio, em diversas zonas da cidade, suspenso desta ou daquela estrutura, sempre de cabeça para baixo, vestido de fato e gravata e sapatos de atacadores. Trazia ao espírito, é claro, aqueles momentos lúgrebes nas torres em chamas, quando as pessoas caiam ou foram obrigadas a saltar. Fora visto a baloiçar, suspenso do varandim no átrio de um hotel, e a polícia condizira-o à saída de uma sala de concertos e de dois pou três prédios de apartamentos com terraços acessíveis.
O trânsito avançava agora muito devagar. Havia pessoas que lançavam gritos ao artista, escandalizadas com o espetáculo, o teatro de marionetas do desespero humano, o derradeiro e fugaz suspiro de um corpo e tudo o que este continha. Continha o olhar do mundo, achou ela. Havia a horrenda candura daquele gesto, algo que nunca tinha visto, a figura solitária em queda que arrasta um pavor colectivo, um corpo tombado no meio de todos nós."


O livro de DeLillo vale, fundamentalmente, pela construção em torno da arte de David.