Bloch é uma curiosa personagem de Proust em Do Lado de Swan. Trata-se de um seu amigo de juventude pelo qual os seus pais tinham pouca admiração. Esta falta de admiração decorria das suas respostas pouco convencionais às conversas de circunstância. Apetece-me muitas vezes citar Bloch, tendo consciência que isso me provocaria inimizades equivalentes às suas.
"... Bloch desagradara aos meus pais por outras razões. Começara por irritar o meu pai que, ao vê-lo molhado, dissera com interesse:
- Mas, senhor Bloch, que tempo é esse? Terá chovido? Não compreendo nada, o barómetro estava excelente.
Só lhe arrancara esta resposta:
- Senhor, não posso dizer-lhe de maneira nenhuma se choveu ou não. Vivo tão resolutamente fora das contingências físicas que os meus sentidos não se dão ao trabalho de as notificar.
- Mas, meu pobre filho, esse teu amigo é um idiota - dissera o meu pai depois de Bloch sair.
(...)
E, finalmente, descontentara toda a gente porque, vindo almoçar com uma hora e meia de atraso e coberto de lama, dissera:
- Nunca me deixo influenciar pelas perturbações da atmosfera nem pelas divisões convencionais do tempo. Reabilitaria de bom grado o uso do cachimbo do ópio e do kriss malaio, mas ignoro o desses instrumentos muitíssimo mais perniciosos e, aliás, desprezivelmente burgueses, o relógio e o guarda-chuva."