Yashima Khadra é o pseudónimo sob o qual escreve Mohammed Moulessehoul. Moulessehoul nasceu em Orão em 1955 e foi, até há pouco tempo, militar de carreira do exército Argelino. A sua escrita percorre os conflitos recentes no Médio Oriente com uma lucidez e um equilibrio invulgares, é assim em O Atentado e em As Sirenes de Bagdad, ambos publicado em português pela Bizâncio. O seu pseudónimo feminino permitiu-lhe escapar à censura militar, em O Escritor, Moulessehoul revela a sua identidade, conta a sua história, descrevendo-a como a fatalidade de ser escritor:
"O sofrimento não me aterrava; despertava-me, fazia-me tomar consciência da minha singularidade; eu era aquele que sabia ver, que esta va atento à dor dos camaradas. E essa coisa, que se fortalecia em mim, habitava-me justamente para me assistir nessa vocação. Não foi senão ao ler O Pequeno Polegar que a descarga se abateu sobre mim, como uma revelação que bate à porta. Era aquele o dom divino: o verbo. Nascera para escrever! Ao abrir o belo livro, ao percorrer as suas páginas de esplêndidas ilustrações, plenas de fascínio, fiquei irremediávelmente apanhado: escrever livros.
Devorei outros contos com um apetite insaciável: Branca de Neve, O Capuchinho Vermelho, A Bela Adormecida, as Fábulas de La Fontaine. Era feérico. Mas o meu fascínio, o verdadeiro, não era nem pelas histórias nem pelas personagens ou pelo talento fantástico dos desenhadores. Só o descobri ao iniciar-me, eu próprio, na escrita: estava fascinado pelas palavras... aquela junção de caracteres mortos que, entre uma maiúscula e um ponto, ganhavam de repente vida, tornavam-se frases, conjuntos, aquiriam força e espírito. Soube de imediato aquilo que mais queria no mundo: uma pena ao serviço da literatura, essa sublime bondade humana que não tem igual senão na sua vulnerabilidade; essa bondade suprema que continua a ser, ainda hoje, a última fortificação da nossa salvação, o último bastião contra a animalidade, e que, se alguma vez viesse a ceder, sepultaria sob os seus escombros todos os sóis do mundo, e então, boa-noite..."