terça-feira, março 23, 2010

A Carta

Eram imponderáveis para Séneca as virtudes tecnológicas que substituem actualmente o cunho manual das cartas. Assim como parece insondável para nós o rejúbilo causado pelas letras que nos são destinadas quando são talhadas por mão e tinta. A sua carta 40 faz-nos perceber que nem toda a tecnologia é virtude quando substitui o enlace pessoal do papel com uma caneta.
"Agradeço-te a frequência com que me escreves, pois é esse o único meio de que dispões para vires à minha presença. Nunca recebo uma carta tua sem que, imediatamente, fiquemos na companhia um do outro. Se nós gostamos de contemplar os retratos de amigos ausentes como forma de renovar saudosas recordações, como consolação ainda que ilusória e fugaz, como não havemos de gostar de receber uma correspondência que nos trás a marca autêntica, a escrita pessoal de um amigo ausente? A mão de um amigo gravada na folha da carta permite-nos quase sentir a sua presença - aquilo, afinal, que sobretudo nos interessa no encontro directo. "

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